O que é ser Homem?
Este é um tema que para muitos de nós é sujeito a uma serie de conceitos que se misturam com o que acreditamos, com o que nos foi passado pela nossa família, com o que a nossa cultura nos impõe e com muitos outros fatores que na maioria são completamente externos a nós… E pior do que isso é que nem sequer nos apercebemos de como tudo isto nos condiciona… Por vezes achamos que sabemos muito sobre nós, no entanto sabemos mesmo é muito sobre o que nos foi, de uma forma ou de outra, implantado na mente e que a determinada altura passou a ser algo com o qual nos acabamos por identificar, sem sequer sabermos bem porquê… Eu debati-me tanto com este dilema! Eu a achar que tinha de ser o homem que os outros me diziam que era a representação da verdadeira masculinidade.
Ser homem é um conceito tão lato tal como o ser mulher! São termos absolutamente abstratos, repletos de diversos significados e de variáveis infindáveis que podem ter variadíssimas interpretações ou possibilidades de interpretações. E podem todas essas infindáveis interpretações estarem certas? Sim, claramente que sim! E porquê? Por que o conceito do que é ser homem, é na realidade uma definição que deveria ficar ao critério de cada um e não ao critério de um grupo, de uma cultura ou seja ao critério, seja do que for, a não ser aquilo que tu consideres que significa ser homem.
Lembro-me muitas vezes de ouvir em criança e em adulto, que um homem deve ser o sustento da família e que na ausência do meu avô, eu era o homem da casa e tinha essa responsabilidade! A questão é: eu realmente tinha essa responsabilidade? Claro que não! Percebo que isto por vezes seja uma tentativa de motivação no entanto, funciona mais em sentido contrário do que a favor… Tal como o facto de eu ter crescido achando que para se ser homem de verdade teria de se ser caçador! E eu simplesmente detestava essa ideia, no entanto era a representação que eu tinha, era o que eu via! Na minha infância aos domingos, parecia quase uma cena da pré-história: os homens saiam para caçar, levavam os filhos homens que já tivessem idade e ficava em casa as mulheres e as crianças pequenas! Isto é literal… Vi muitos domingos desses e quando passei a ter idade de caçar e como me recusei sempre a tal coisa, às mulheres e às crianças acrescentava-se eu que ficava em casa, mas sempre com um sentimento de culpa, de que não estava a representar o meu papel de homem da melhor forma ou nem sequer estava a ser homem!
A questão, é que à medida que vamos crescendo, vamos vivendo com base no que nos dizem ser a maneira certa de viver, a maneira certa de estar, e também qual a maneira certa de ser homem… Quem é que nunca ouviu expressões do género: “Isso não é uma coisa de homem…”; “Homem que é homem…”; “Essa é uma tarefa do homem”; “Que tipo de homem és tu?”; e vários outros exemplos que de uma forma ou de outra acabam por nos obrigar a ir criar uma mentalidade do que é essa coisa de ser homem… E a questão é que esse “ser homem” no qual acreditamos é apenas uma serie de conceitos que nos são passados e com os quais somos obrigados a lidar de uma forma que a meio do percurso perdemos a nossa própria nosso do que é essa coisas de ser homem…
Por vezes falamos muito na questão da igualdade das mulher na sociedade e fala-se muito sempre na perspetiva do que a mulher sofre e nas injustiças que as mulheres vivem, e que são todas reais e que são todas queixas e reclamações totalmente válidas, no entanto é altura de perceber que se calhar a melhor forma de colocarmos as coisas em pé de igualdade é trabalhar a fonte do problema, que é normalmente o homem… Quando numa sociedade em pleno século XVI ainda tens relações que terminam e problemas conjugais, porque o homem não consegue aceitar que a mulher ganhe mais que ele, dificilmente se consegue curar os problemas sociais, quando os familiares ainda estão de tal forma enraizados. As igualdades devem ser para ambos os lados… Não se pode pedir que a transformação social ocorra sem que a transformação da causa seja proporcionada! E na sociedade atual ainda é o homem que desempenha o seu papel, sem lhe ser permitido ter outro!
Se vivemos numa sociedade que planeia a sua estrutura tendo por base a falta de emoções dos homem, é difícil que alguma coisa mude! Conhecem algum magnata ou CEO de uma grande empresa que demonstre algum tipo de fragilidade e vulnerabilidade emocional? Pois dificilmente… E faz o quê? Faz com que as mulheres quando ocupam esses cargos tenham a necessidade de representar o papel da mesma forma! Ou seja as mulheres sentem-se na obrigação de deixarem de ter a sua natureza mais emocional para conseguir desempenhar um papel que ainda hoje consideramos como um papel de homem!
E a questão é mesmo essa: não deveriam ser as mulheres a serem obrigadas a aproximar-se do comportamento dos homens… Pelo contrário, deveriam ser os homens a aproximarem-se do comportamento natural das mulheres! Porque tudo é passível de ser feito com emoções e é quando pomos as emoções no sitio certo que as coisas estão mais próximas de se serem iguais…
Portanto é importante trabalhar a igualdade, que na realidade nem sequer deveria ser uma questão, no entanto é importante trabalhar a igualdade também no lado masculino, já que é esse que maioritariamente causa mais problemas… Enquanto os homens não se permitirem sentir e viver as suas emoções dificilmente se permitiram que as mulheres estejam no mesmo patamar! Se estiveres num grupo de amigo, ainda é comum ouvires “amigos” a gozar com amigos porque um dele tem uma mulher ou namorada que ganha mais que ele… Já para não falar na família! Quando se usam expressões como: “Agora lá em casa é ela que manda, já que é ela que veste as calças e trabalha…” Diz muito do estado da nossa sociedade em termos de igualdade de género!
LUDGERO MAIA
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